Este blog tem como objetivo dividir algumas idéias, pensamentos e leituras sobre o tema da violência escolar. Tenho a expectativa de encontrar comentadores, pessoas que também tenham interesse no assunto, que queiram compartilhar relatos, depoimentos, fatos, que dêem sugestões ou que elaborem críticas. Este é apenas o início da minha caminhada e estou certa de que há muito conhecimento a ser construído.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Diferenciações entre violência e agressividade

Quando pensamos em tratar o tema da violência escolar, é importante ter claras algumas definições que, por vezes, são complexas. Podemos citar as tentativas de diferenciação entre violência e agressividade.

O Dicionário Aurélio On-line traz as seguintes definições:

Violência: s.f. Qualidade ou caráter de violento. Ação violenta: cometer violências. Ato ou efeito de violentar. Opressão, tirania: regime de violência. Direito: Constrangimento físico ou moral exercido sobre alguém.

Agressao: s.f. Ataque violento e intempestivo; provocação. Insulto, ofensa.

Agressividade: s.f. Tendência a atacar, a provocar. Psicologia: Forma de desequilíbrio psíquico que se traduz por uma hostilidade permanente diante de outrem.

Aprofundando um pouco mais o tema, o Dicionário de Psicologia Roland Doron & Françoise Parot conceitua os termos da seguinte forma:

Violência: A violência física faz reinar a lei do mais forte, oprimindo indivíduos ou grupos mais fracos. Em que consiste a violência psíquica? Na perspectiva econômica ou quantitativa em psicanálise, S. Freud descreveu a violência intrapsíquica por excelência, aquela que a pulsão, pela força de seu impulso, exerce sobre o aparelho psíquico e, mais particularmente, sobre o ego/eu do indivíduo. E isso, seja qual for a natureza da pulsão. Um desejo amoroso pode ser violento; a violência não é necessariamente obra da agressividade: um ato agressivo, por exemplo uma crítica privada ou uma manifestação pública, pode ser não violento. Nas relações intersubjetivas, os psicólogos descreveram duas grandes formas de violência moral, exercida pelas pessoas dominantes para prolongar e reforçar a sua superioridade: a ameaça da retirada do amor e da proteção (mecanismos freqüentes na neurose), e o uso perverso do raciocínio, que submete a vítima a contradições lógicas, a comunicações paradoxais às quais lhe é proibido escapar e cuja culpa se volta contra ela: double bind, esforços para enlouquecer o outro (H. Searles) (mecanismos freqüentes nos estados limítrofes e na esquizofrenia). De maneira mais geral, a posse de um bem, de um saber, de uma habilidade pode ser sentida, pelos que são desprovidos deles, como uma violência que lhes é feita por parte do possuidor. Daí sua violência como reação. O modelo inconsciente seria, conforme M. Klein, a identificação projetiva do bebê que penetra imaginariamente no seio da mãe para destruir nele os órgãos e os produtos de fecundidade. Com a expressão “violência da interpretação”, P. Aulagnier descreveu a situação da criancinha, desprovida de linguagem e que deve deixar que sua mãe se arvore em porta-voz de suas necessidades físicas e de seus estados psíquicos. J. Bergeret chamou de “violência fundamental” a situação do bebê confrontado com os maus-tratos dos adultos e com uma regra arcaica de equilíbrio dos vivos e dos mortos: para que um viva, o outro deve morrer.

D. Anzieu

Agressividade: Disposição permanente para se engajar em condutas de agressão reais ou fantasiosas. Podem-se distinguir dois aspectos: uma agressividade maligna, destrutiva, e uma agressividade benigna, em que a combatividade se exprime pela competição e pela criatividade. A agressividade é considerada pela psicanálise, conforme as escolas, como uma pulsão unitária e independente, a projeção do instinto [pulsão] de morte ou de destruição (S. Freud) ou como uma manifestação do desejo de poder sobre o outro e de afirmação de si (A. Adler). As pesquisas interculturais mostraram que a grande variedade de normas que regem a agressividade e a combatividade em diferentes culturas.

G. Moser

Há que se mencionar que G. Moser também elaborou a definição de agressão no mesmo dicionário, ressaltando que não há uma “acepção homogênea do termo agressão. As principais posições são inconciliáveis”. Por exemplo: “na perspectiva freudiana, a agressão remete à agressividade. É considerada como um comportamento espontâneo, saído de uma pulsão unitária e fundamental, radicada na esfera biológica, e cuja energia deve imperativamente ser descarregada”. Já em psicologia social essa energia pulsional autônoma é contestada e essa pulsão é vista, quando muito, como “uma disposição para agredir, atualizada por fatores situacionais”. Para os comportamentalistas, contudo, os comportamentos de agressão são resultado de aprendizagens, negando a origem endógena do comportamento.

Pelas definições apresentadas (e levando-se em consideração que recorri apenas a dois dicionários) o mínimo que se pode constatar é o quanto os termos agressividade, agressão e violência são difíceis de se diferenciar e definir. Se adotarmos uma perspectiva psicanalítica freudiana, por exemplo, podemos correr o risco de enfatizar aspectos biológicos e individuais e culpabilizar o indivíduo. Se, ao invés disso, adotamos uma perspectiva comportamental ou social corremos o risco de valorizar demais o meio, o ambiente, e desconsiderar o papel ativo do sujeito.

Fato é que o processo civilizatório em si, em algumas culturas mais e em outras menos, é violento, imprimindo ou tentando introjetar nos indivíduos condutas, comportamentos, modos de pensar, sentir ou de se expressar. Evidentemente, isso não dispensa o estudo, as tentativas de compreensão e a necessidade de se desenvolver um posicionamento com relação ao tema. O conhecimento é uma condição necessária para se traçar estratégias de ação ou prevenção.

O importante é evitar determinismos de qualquer tipo e pensar que papel (ou papéis) a educação ou as escolas podem exercer em assuntos como a violência escolar, a agressão ou o bullying.

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